Será que eu tenho mesmo a Doença de Gaucher?

Olá, pessoal,

No post de hoje, vou comentar um aspecto importante da experiência com a doença de Gaucher: as eventuais dúvidas em relação à veracidade do próprio diagnóstico, e de sua condição de "adoecido/adoecida". 


O momento do diagnóstico foi recebido, pela maioria dos entrevistados, com alívio (por se saberem portadores de uma doença diferente do câncer), e como uma resposta satisfatória à peregrinação por tantos médicos e serviços de saúde. Porém, eu observei um fenômeno interessante: alguns entrevistados me disseram que tiveram (ou ainda tinham) dúvidas sobre a legitimidade do diagnóstico da doença de Gaucher. Os motivos? Arrisco presumir alguns, que seguem logo abaixo, seguidos das narrativas dos entrevistados: 

--> Ela é uma doença desconhecida, tanto pelos adoecidos quanto pelos profissionais de saúde, pelo fato de ser rara e pouco frequente na população. Além disso, as informações relacionadas à doença de Gaucher são altamente complexas, e difíceis de serem compreendidas pelos adoecidos:



“Até hoje eu nunca consegui entender. Vai fazer 3 anos, e eu nunca consegui entender. Até hoje eu me pergunto o que é que eu tenho. E não sei responder. Para mim mesmo, não sei responder o que é o Gaucher.” (...)  Eu não sei explicar. Eu não sei explicar a doença. Isso é uma dificuldade. Se alguém perguntar, “José, o que é o Gaucher?” Eu não sei falar o que é o Gaucher. Porque eu não sei para mim, também não sei explicar para outra pessoa, entendeu? ” (José, 26 anos, ajudante geral)



--> Além de muito complexas, as informações recebidas pelos adoecidos sobre a doença de Gaucher não encontram correspondência no que sentem, ou percebem, em seus corpos:



“Na época em que eu comecei [a fazer o tratamento] a gente era em vinte no grupo que tomava a medicação [no hospital]. Então, um tinha canseira, outro tinha problema na perna... era muitas coisas que eles tinham... E eu, caramba, eu não sentia nada do que eles falavam! Eu não me encaixo nisso, sabe?” (Maria, 46 anos, designer)



--> É também uma doença invisível: que não produz sinais, sintomas ou marcas exteriores e visíveis quando a pessoa segue seu tratamento, fazendo, com que as pessoas esqueçam, ou neguem, esta condição em suas vidas: 

 

“Quando me perguntam no médico, ou em qualquer lugar que eu vou, eu sempre respondo que eu não tenho nada, eu nunca respondo que sim. Então, eu não tenho nenhum problema de saúde. Só quando vão realmente tocar nesse assunto: “você faz algum tratamento?” Daí eu falo: “ah, sim, eu faço tratamento para Doença de Gaucher”, mas não falo que eu tenho problema de saúde. Para mim, eu não tenho.” (Rosa, 24 anos, professora)



 

“Essa doença, se é que a gente pode considerar uma doença, para mim não é, pelo menos para mim não mudou em nada qualquer tipo de comportamento meu, ou da minha família, como te falei, com meus pais, minha mãe, nada. (...) Dos males, o menor." (Daniel, 60 anos, comerciante) 

 

A Doença de Gaucher possui alguns atributos que a caracterizam. Ela é desconhecida, tanto pelos adoecidos quanto pelos profissionais de saúde, por ser rara e pouco frequente na população, não gera estigma por não produzir sinais, sintomas ou marcas aparentes quando a pessoa está em tratamento. Por suas características de invisibilidade, raridade, e desconhecimento da maioria das pessoas, ela atua de maneira dúbia na vida de seus portadores, que ora aceitam o papel de adoecidos, ora o recusam, determinando, desta forma, as suas experiências com o adoecimento.

Alguns narradores reportam a não correspondência entre as informações biomédicas relativas a sinais e sintomas, e o que é sentido e experimentado corporalmente por eles, enquanto outros têm dificuldade em compreender e manejar as informações biomédicas relativas à doença. Ressalte-se que a maior parte das informações sobre a Doença de Gaucher foi obtida pelos entrevistados por meio de médicos (sendo estas informações sempre muito valorizadas), conversas com outros adoecidos, ou extraídas da internet. 

Em uma doença crônica, como é a doença de Gaucher, o fato de os adoecidos terem dúvidas em relação às informações médicas relacionadas à sua doença, à sua própria condição de adoecidos, e também, em última análise, sobre a legitimidade do seu diagnóstico, compromete não apenas o seguimento do tratamento prescrito, mas o cuidado com a sua saúde. 

🔝🔝🔝Por isso, a educação dos adoecidos, e o acesso à informação sobre a doença de Gaucher  é tão importante! 

E você, vê relação entre as informações médicas que você conhece sobre a doença de Gaucher e o que você sente em seu corpo? Alguma vez você já duvidou de seu diagnóstico? Por quê?

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