Narrativas sobre o Momento do Diagnóstico: entre alívio e resposta

Olá, pessoal,

momento do diagnóstico da doença de Gaucher é muito importante e significativo para todos os adoecidos. Por isso, seguem algumas narrativas sobre os diversos aspectos desta experiência, que abarca os seguintes aspectos (os nomes dos entrevistados foram substituídos por pseudônimos, tendo sido preservadas as idades e as profissões que mantinham, na época das entrevistas):

1- o medo de uma doença que já se manifestava no corpo, mas que ainda não havia sido diagnosticada, especialmente se fosse um câncer (doença bastante temida por sua gravidade):

“Para mim, se eu tivesse leucemia, eu já estava morta. Tanto é que minha mãe ficou chorando quando eu fui para São Paulo fazer o tratamento, achando que já estava me perdendo. Naquela época, leucemia não tinha tratamento que tem hoje... aí, quando o médico falou que não era leucemia, que era Gaucher, eu falei: “que bom, né?!” (Sara, 56 anos, costureira)

“Quando foi diagnosticado que era Gaucher, e eu sabia que não era uma coisa tão... gravíssima, como falavam que podia ser uma leucemia, que podia ser um câncer não sei aonde... que poderia ser não sei o quê, eu...eu me senti aliviado, lógico...” (Daniel, 60 anos, comerciante).

2- o longo percurso percorrido entre idas a diversas consultas médicas, e a realização de diversos exames, muitos deles dolorosos e traumáticos, para se obter um diagnóstico:

“Eu descobri porque eu estava me sentindo muito com arritmia. Aí eu fui no cardiologista...eu estava com pressão alta...eu tinha 38 anos. Aí eu descobri que eu estava com um pouco de anemia. Aí, o médico pegou e falou: “olha, você vai num hematologista para examinar o seu sangue, para saber a causa da anemia.” (Laura, 52 anos, diarista)

“ No (nome do hospital) descobriram um nódulo no meu fígado. Aí eu quase... aí fez a biópsia do nódulo... foi... muito triste! Não gosto nem de lembrar!” (Estela, 57 anos, vendedora)

“Mas eu estava desesperada, porque dói, é uma picada... é uma pressão dentro... Eu fiz a biópsia do fígado, que eu fiquei metade de um dia no hospital... e... depois passou... Não foi assim tão incômodo, mas a dor da biópsia da medula, foi... Daí eu chorei, foi triste, porque além da dor no osso, acho que você estar fazendo algo na medula, um exame na medula é pior ainda. Parece que toma uma proporção muito maior do que tinha antes.” (Rosa, 24 anos, professora de inglês)


3- a descoberta e a familiarização com termos médicos e os meandros do sistema de saúde, que conduziriam os entrevistados ao tratamento, depois de diagnosticados:

“Daí eu fui na hematologista, ela fez os exames e ela percebeu na hora que estavam o baço e o fígado, todos grandes. Eu nem sabia o que era baço, o que era fígado...” (Laura, 52 anos, diarista).

“Fui num médico hematologista que fez uns exames... daí que chegou a este diagnóstico através do mielograma. Fizeram o mielograma e deu que eu tinha Doença de Gaucher, tinha células de Gaucher. Eu não sabia nem o que era isso, mielograma... Ela me explicou... e foi aí que começou tudo.” (Daniel, 60 anos, comerciante)


Embora as narrativas acima descrevam episódios que envolvem dúvidas e sofrimentos, alguns entrevistados afirmam ter vivido sem maiores episódios deste tipo até serem diagnosticados. No entanto, mesmo entre estes narradores, observa-se que algum episódio específico (como a agudização de sintomas, ou a realização de consultas médicas e exames de rotina) motivou a ida ao médico, e deu início a seu itinerário terapêutico.

Tendo ou não a existência marcada por dores e sofrimentos físicos, percorrido diferentes trajetórias, e tendo sido expostos a alguns procedimentos médicos e cirúrgicos, anteriormente ao diagnóstico desta enfermidade, as narrativas dos adoecidos sobre o momento do diagnóstico da Doença de Gaucher demonstram que ele é recebido ora como uma resposta às experiências dolorosas anteriores, ora como um alívio diante da perspectiva de uma doença considerada mais grave, como o câncer.

Este momento também marcou o início de um processo de familiarização com termos e procedimentos médicos relacionados às disfunções envolvidas na Doença de Gaucher, bem como a descoberta e a oportunidade de obter maior conhecimento do próprio corpo (e da existência de alguns órgãos, como o baço, o fígado, e a medula). É deste modo, no momento de seu diagnóstico, que a Doença de Gaucher é apresentada pelos médicos aos adoecidos, que, até então, nunca tinham sequer ouvido falar sobre ela.

Mas, isso já é assunto para outro post!

E para você, como foi o momento do diagnóstico da doença de Gaucher? Quais foram as experiências mais marcantes deste período?


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